quarta-feira, 25 de março de 2009

Felgueiras... que futuro?

Ora, aqui está uma pergunta que merece uma reflexão séria...

É com grande preocupação que olho para o futuro desta cidade.
Sucede que, ao contrário do que se possa pensar, não vou esmiuçar a conjuntura empresarial felgueirense, na medida em que já não é novidade para ninguém que o sector produtivo do nosso concelho está em crise.
Em relação a este assunto e em toque de foice, até porque sou suspeito, cumpre-me, somente, referir que sejam quais forem as medidas que os "nossos governantes" irão tomar, se é que o vão fazer, estas já são tardias.
Não posso, porém, passar sem deixar um pequeno comentário a um estudo encomendado já à algum tempo pela C.M. de Felgueiras, intitulado “Felgueiras: que futuro?”. Logo na sua introdução encontrei um Parágrafo que merece um comentário exemplificativo, claramente com o maior respeito pela entidade coordenadora do projecto e demais intervenientes. Lá pode ler-se o seguinte:

Mas é às empresas e aos empresários que cabe o papel fundamental. A liberalização crescente dos mercados, o alargamento da União Europeia a novos países e a diminuição dos custos de transporte, implicam mais concorrência, mais desafios, obviamente, mas também mais oportunidades e mercados. O progresso tecnológico traz consigo novas oportunidades se permitir a diferenciação dos produtos e o aumento da produtividade. Mas as oportunidades só resultarão em benefícios para as empresas e para as economias locais se houver uma alteração das formas como se trabalha e na forma como as organizações se estruturam e operam”.

Tal é uma falácia, tem premissas correctas, mas conclusões irreais o que conduz a inverdades.
Em relação à primeira frase, irei desenvolvê-la adiante.
Desta feita, é verdade que o alargamento da UE implica mais concorrência e desafios, sem dúvida! Também cria novas oportunidades em novos mercados, claro...cria oportunidade de deslocalização de produção para esses países em busca de mão-de-obra mais barata.
Também é verdadeiro que o progresso tecnológico cria novas oportunidades e aumenta a produtividade. Sucede que, como vivemos num mercado globalizado, todos os países, falo dos de mão-de-obra mais barata, também têm acesso a estas tecnologias.
Mais, a alteração das formas de trabalhar e nas formas de organização estrutural das empresas resultará, claramente, em benefícios para estas. Porém, este caminho a seguir não é o tido em conta neste estudo, nem sequer o impacto que ele vai ter na sociedade felgueirense. Isto porque, Felgueiras tem de esquecer as megas produções, bem como esquecer a concorrência aos países de mão-de-obra ainda mais barata que a nossa. Sim, porque a nossa mão-de-obra já é barata e temos os problemas que temos...imagino quando ela aumentar, como vai aumentar! Como supra referi, a adaptação estrutural necessária para parte das empresas felgueirenses se vingarem vai passar pela racionalização de mão-de-obra e de produção, nú e crú, pelo despedimento de trabalhadores para fazerem produções pequenas. Aqui sim, entra o desenvolvimento tecnológico para produzir artigos de máxima qualidade, os chamados “nichos de mercado”. Só neste sector e em alguns especializados, as empresas irão sobreviver, claro que há excepções, mas Felgueiras precisa da regra.
Todas estas medidas abarcam uma diminuição dos postos de trabalho, condição sine qua non para a sobrevivência das empresas felgueirenses, aliado a uma especialização do produto e aumento da qualidade.
A função do poder público é arranjar soluções e juntar vontades para Felgueiras dar o “salto”. Claro que, o sector do calçado em Felgueiras vai ser, sempre, um motor importante da economia local, mas serão necessárias novas soluções, caso contrário, a triste sina será a desertificação, pois não existirão condições para suportar com tanta mão-de-obra.
Muito mais a dizer, mas prefiro ficar por aqui...

Enfim, adiante pois...

Isto posto, com este simples e modesto comentário queria tocar em assuntos que muitas vezes são esquecidos.
A tão falada e badalada crise não passa de...uma crise! Isto é, e é mesmo, são problemas de fundo que sempre existiram e que agora vêm à tona.
Claro que, as medidas de contenção devem ser tomadas para apaziguar e amenizar os efeitos nefastos e maléficos, mas mais importante do que isto é criar um sistema de bases com apoio e preocupação social, melhor dizendo, releva, para efeito, estudar minuciosamente as brechas dos pilares de apoio da comunidade felgueirense, para percebermos qual a realidade fáctica.
Em bom rigor, mais importante do que tentar manter a todo o custo uma hiper-produção em Felgueiras, é criar outras oportunidades e outros caminhos, abrir novas janelas e construir novos alicerces, para uma sociedade melhor.
Destarte, a história não mente, bastando um olhar atento para os países mais desenvolvidos, de forma a percebermos como eles deram o salto de "países produtores" para "países comerciantes ou intermediários". Claro que, não é assim tão linear, uma vez que os tempos são outros e as condições sócio-económico-financeiras também, mas ao menos temos alguns exemplos que podemos adaptar e moldar ao nosso belo prazer.
A minha filosofia ou génese de construção social assenta no investimento privado. Porém, não sou recto ao ponto de achar que o desenvolvimento de uma sociedade é da responsabilidade individual, não, nada disso, no meu modesto entender, o poder público tem de criar condições, entendam-se boas, para o investimento privado, tem que criar projectos, traçar rumos e directivas, de forma a atingir um desenvolvimento sustentável e controlado.
Com isto, quero dizer o seguinte: faça-se uma análise estrutural que disseque todos os problemas de fundo do nosso concelho, quando refiro todos são todos! Desde saneamento básico a controlo de poluição, desde o ordenamento do território a necessidades primárias, absolutamente tudo! Depois, apostar num caminho de desenvolvimento, numa estratégia concertada e de consenso concelhio para fomentar o investimento público e privado em ramos diversos aos existentes em Felgueiras, para a criação de postos de trabalho, sempre em sectores diversos aos do calçado - chame-se o apartheid ao calçado!
Entenda-se esta expressão não como uma aversão à indústria do calçado, mas como uma alternativa a esta. Com efeito, devemos ser conduzidos a novas oportunidades, pois o poder público não pode, nem deve, estar sempre à "sombra da bananeira" à espera que os outros façam. Muitas individualidades de Felgueiras já fizeram muito, para o bem e para o mal, o desenvolvimento que Felgueiras tem, ainda que pouco, deve-se a privados. O problema residiu e reside estruturalmente, numa falha de acompanhamento do poder público, pois em vez de consertar vontades e investimentos, deixou-os ao livre arbítrio destas tais pessoas. Obviamente que, muito dificilmente, tais investimentos iriam a bom porto.
Em virtude de tal facto, culpam-se muitas das vezes os privados pelo atraso que sentimos haver em Felgueiras, sucede que tal não é correcto, de todo.
Pensemos, a título de exemplo, no pastor e o seu rebanho, não quero ressaltar aqui nenhuma índole religiosa, seja ela qual for! Quero, somente, evidenciar que a maior riqueza do pastor é o seu rebanho, pois é este que lhe dá a vida a ganhar, o pastor trata delas com o maior cuidado e acompanha-as todo o dia, salvaguardando-as do lobo mau e de todos os possíveis seres danosos. Ora, com isto quero dizer que o rebanho é o Santo Graal do pastor...mas, note-se, se o rebanho não tivesse o pastor não tinha o valor atrás indicado, porventura, até deixava de ser um rebanho, na medida em que as ovelhas começavam a tresmalhar-se e a trabalhar cada uma para si, umas iam ficando para trás, outras morreriam porque não tinham quem tratasse delas, enfim, o caos!
Foi isto mesmo que sucedeu em Felgueiras...não houve pastor...tivemos e temos grandes individualidades que sempre trabalharam sozinhas, sem qualquer estrela guia...
Saliente-se que, não quero com isto referir que a iniciativa privada é oca sem instrumentalização pública, claro que não, mas é tão mais fácil quando alguém nos ajuda e cria condições...

Infelizmente, esta situação é só o pico do iceberg.

Contudo, não posso deixar de me referir a um outro problema fulcral e que me preocupa bastante!
Preocupam-me os jovens, como eu, a tão escassa e limitada escolha que têm para a vida, as quase nulas saídas e oportunidades profissionais.
Em Felgueiras que oportunidade tem um recém-licenciado que não se tenha formado em medicina? – nada quero apontar à medicina.
Existe, contudo, um binómio nesta questão: primeiro, não há um aproveitamento cabal dos jovens felgueirenses, não há mercado, nem foram criadas condições para tal – também não há vontade política para tal (há exemplos concretos que agora não posso revelar); segundo, a outra quota parte de culpa pertence a nós, jovens, dado que não temos capacidade reivindicativa, existe um défice de vontade e de luta, poderei mesmo afirmar e ir mais além e dizer que existe uma falta de sentido de Estado!

A final, preocupa-me o facto de pouca gente se preocupar!

Tinha muito mais para escrever, modéstia à parte, dava para escrever um livro, mas não me posso esquecer que tenho de adaptar este “desabafo” para este Blogue.

Em remate, quero só deixar esta frase: «o trabalho é uma condição inevitável da vida humana, a verdadeira fonte do bem-estar humano», TOLSTOI.

Vamos à luta que se faz tarde!

N.B. 1 – não posso deixar passar em branco, temos um jovem felgueirense, Rui de Oliveira, a estagiar na ONU em Nova Iorque, porque não aproveitar esta gente?
N.B. 2 – porque não pensar em marcar um jantar-debate? Deixo aos vossos comentários...

Cordiais Cumprimentos,

ADRIANO MARINHO